A Comunidade Quilombola do Castainho, em Garanhuns, deu mais um importante passo para a preservação de seu patrimônio cultural. Moradores da localidade receberam, na última segunda-feira, dia 7, e terça-feira, dia 8, equipes técnicas do Governo de Pernambuco, por meio da Fundarpe, e do Governo Federal, via Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), para a apresentação de um exame técnico de tombamento da Cruz das Almas, casa de orações e importante marco histórico-cultural da Região. Na ocasião foi realizada uma escuta pública com a população local.
A Fundarpe esteve representada pela arqueóloga e historiadora Pollyana Calado e pelo técnico em restauração Roberto Carneiro, da Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural (DPPC). Pelo Iphan compareceram a arqueóloga Mônica Nogueira e a historiadora Thamires Neves. O encontro aconteceu durante assembleia da Associação Quilombola Castainho, tendo à frente o presidente, José Carlos Lopes da Silva, e seu Vice, José Lopes.
Antes da apresentação do exame técnico, o público presente teve acesso a uma retrospectiva sobre os levantamentos das referências históricas e culturais da comunidade e seu processo de tombamento, além de uma atualização de status da área de cemitério, conhecida como Cruz das Almas. No local há uma casa de oração que guarda uma cruz instalada em um terreno onde eram sepultados os antigos quilombolas do Castainho, até os anos 1950.
Embora integre a comunidade, seja importante e deva ser protegido, o espaço ficou fora da demarcação territorial inicial do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e é alvo constante de ameaças de invasão e apropriação. A Cruz das Almas, contudo, está incluída no polígono de preservação. Seu tombamento, no âmbito estadual, está formalizado no Processo Administrativo Secult-PE nº 010/2020.
O tombamento da Capela e Cruz das Almas foi solicitado ao Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC); pela Academia de Letras de Garanhuns (ALG) e pelo Instituto Histórico, Geográfico e Cultural de Garanhuns (IHGCG), por tratar-se de um resquício do período colonial, também relacionado com a tradicional comunidade quilombola remanescente do Castainho e o culto de religiões de matriz africana.
ESCUTA DA COMUNIDADE – A iniciativa de realizar a escuta com a comunidade deriva do fato de que são pessoas quilombolas que detêm o conhecimento sobre o cuidado com o bem material e são elas que devem decidir o destino da Cruz das Almas, a partir da análise técnica desenvolvida em parceria com a Fundarpe. Após as considerações das moradoras e dos moradores será elaborado o parecer conclusivo e só então será formalizado o documento sobre o tombamento a ser encaminhado para o Conselho Estadual de Preservação e Patrimônio Cultural de Pernambuco (CEPPC-PE).
As diretrizes do exame técnico preveem que as decisões sobre a Cruz das Almas ficam a cargo da comunidade quilombola do Castainho, que também é responsável pela manutenção do bem, tendo a Fundarpe como mediadora.
O processo de conservação estipula ainda a elaboração de um plano de gestão e de um inventário das referências culturais do Castainho; a sinalização, no local, da Cruz das Almas como patrimônio cultural; o reconhecimento e fortalecimento de práticas educativas e socioculturais; o incentivo à criação de um museu de referência; a realocação do acesso ao loteamento Novo Castainho (Cohab 2); a garantia de menor impacto sobre o bem nas intervenções previstas pela gestão municipal para a Avenida Deolinda Silvestre Valença, que passa à frente da casa de orações; e uma gestão compartilhada com o Município. (@blogcarloseugenio, com informações da Fundarpe e imagens de Eduardo Cunha/Secult-PE/Fundarpe)