Durante a entrevista, Izaías
disse que a motivação para a proibição surgiu após observar supostos protestos
nas redes sociais. Segundo Ele, o fato da peça já ter sido censurada em outras
cidades, como Salvador e Jundiaí, corroborou sua decisão, além do fato de ele,
“como cristão”, como ressaltou, se sentir incomodado. Izaías afirmou ainda que
não foi procurado por nenhuma Igreja, mas clamou por apoio à sua decisão. Procurada pela Redação, a Diocese de
Garanhuns não se posicionou sobre a questão.
“Como cristão e em respeito à
população cristã de Garanhuns, que é a grande maioria, 99 ou 100% da população.
Respeito também os transexuais, agora, apresentar uma peça onde diz que Jesus é
transexual, é um negócio que a gente fica meio chateado”, disse. Em nota
oficial, o Prefeito insistiu no seu ponto de vista. “Não temos nenhum
preconceito relacionado a opção sexual de quem quer que seja. Mas, não podemos
comungar com manifestações que ferem símbolos sagrados da fé cristã. Chegou a
nosso conhecimento que o espetáculo deve ser apresentado no Sesc Garanhuns.
Neste caso, não nos compete. Mas no Centro Cultural (Alfredo Leite Cavalcanti)
do Município, não haverá a disponibilidade”, diz o texto.
Para o secretário de Cultura
do Estado, Marcelino Granja, a atitude de Izaías, que é aliado de Armando
Monteiro, opositor de Paulo Câmara (PSB) na disputa pelo Governo, tem tons
políticos. “É uma atitude estranha para um gestor público. Ele conhece a lei e
a Constituição é clara em defender como cláusula pétrea a liberdade de
expressão artística. Não compete ao governo proibir uma manifestação artística.
Interpreto isso mais como uma questão de alinhamento político com o campo de
oposição. Mostra, também, o acerto do tema do festival de defender o estado
democrático de direito”, reforçou.
A presidente da Fundarpe,
Márcia Souto, pontuou ainda que a peça está programada para ser encenada no Salão Jaime Pincho, no
Sesc local, espaço onde acontecerá a Mostra de Teatro Alternativo,
voltada para o público adulto, às 23h, com capacidade entre 70 e 100 pessoas.
“Essa é uma questão muito mais em cima da política, por ser ano eleitoral, e
está rebatendo fortemente na cultura. A gente precisa ter esse olhar de que
estamos fazendo o FIG em homenagem à liberdade. Então, que contradição é essa?
A programação é selecionada através de edital e temos que garantir a liberdade
de expressão. O festival serve também para que a gente possa refletir sobre o
que estamos passando no País”, enfatiza Márcia.
Marcelino afirmou ainda que,
caso a Prefeitura de Garanhuns mantenha sua posição de proibição à peça, já há
espaços alternativos disponíveis para recebê-la. Em áudio que circula no
aplicativo WhatsApp, o Secretário Estadual de Cultura registrou que não conhece
a peça e tratou de isentar o Governador Paulo Câmara (PSB) pela escolha da
atração. “É um processo de curatoria pública que o Festival de Inverno faz há
décadas”, pontuou Granja.
DEPUTADO FEDERAL FAZ ALERTA AO GOVERNO – Em vídeo que também
circula nas redes sociais, o Deputado Federal Pastor Eurico (PATRIOTA), que é membro da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em
Pernambuco, abordou o polêmico tema que já tomou conta de Garanhuns. O Deputado
registra que “é um absurdo o que está para acontecer em Pernambuco, na cidade
de Garanhuns, no famoso Festival de Inverno” e faz um alerta ao Governo de
Pernambuco. “Os cristãos vão dar o troco politicamente. “Cuidado! Respeite os
evangélicos! Nós não aceitamos essa afronta! Esse desrespeito aos cristãos, aos
católicos, aos evangélicos, a todos que respeitam e honram Jesus. Pense nisso (…);
é uma advertência!”, disparou o Pastor Eurico.
“Mais uma tentativa de barrar
a apresentação do Evangelho… sem ao menos ler ou assisti-lo. Isso deve-se a
construção social e a criminalização da travesti. Jesus é a imagem e semelhança
de todos, menos de nós, pessoas trans. A folclorização que se construiu e se
constrói da imagem da travesti não é de hoje. Isso deve-se à exclusão, à
marginalização desses corpos. Precisamos desmistificá-los, precisamos
naturalizar e humanizar nossas identidades, vivências e corpos e isso só
conseguiremos convivendo com esses corpos presentes nos espaços. No mais
convido o Prefeito e a todos de Garanhuns a irem assistir ao espetáculo e
conhecer a obra de Jo Clifford e, se mesmo assim, depois disso, vocês acharem
um desrespeito estamos abertas a conversar. Fazemos essa peça para abrir mentes
e corações mostrando a realidade de um corpo trans no país que mais mata
pessoas trans no mundo. Queremos parar de morrer”, disse a atriz ao JC.
ABAIXO-ASSINADO – Diante do posicionamento do Prefeito de
Garanhuns, a classe artística criou um abaixo-assinado na plataforma Avaaz
contra a proibição do espetáculo. Até o fechamento desta edição, o documento
digital havia sido assinado por 290 pessoas. (Com informações do Jornaldo Commercio. CONFIRA)